Se a questao colocada fosse: existe um «Homem mediterranico», que se possa caracterizar de acordo com atributos proprios e utilmente distinguir dos homens nao mediterranicos? Entao, decerto, a resposta que proporiamos seria negativa. Nao existe um Homem do Mediterraneo, mas apenas uma consideravel variedade de culturas locais agrupadas nas margens do mar Mediterraneo; e nem esta nocao espacial faz mais do que designar um espaco cujas fronteiras sao definitivamente vagas, indeterminaveis com precisao. E possivel, no entanto, que os homens do Mediterraneo, num sentido agora assumidamente vago, tenham em comum uma caracteristica que os diferencia dos homens de outras regioes do planeta habitado (embora seja apenas uma diferenca de grau): a extrema diversidade das origens, e uma excepcional fecundidade no que respeita a capacidade de producao de diferencas. Deste modo, se renunciarmos a definicões especiosas, e o proprio espaco mediterranico, enquanto conjunto natural e cultural, que possui esses atributos e se distingue dos que o rodeiam, e nao as populacoes (nenhuma delas, nem como um todo), que participaram e participam no jogo extraordinariamente complexo da mediterraneidade.
Esta e a tese que tentaremos expor e fundamentar nas linhas que seguem.